Ora, as provações não são instrumentos de medida para se mensurar a
fé daqueles que professam a Cristo, antes tem o fito de ‘redundar’ em
louvor, glória e honra na revelação de Cristo "Bem-aventurado
o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a
coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" ( Tg
1:12 ). Ou seja, a provação é conforme o propósito e segundo o conselho
da vontade de Deus, ‘afim de sermos para louvor da sua glória’ ( Ef
1:11 -12). Abraão foi chamado por Deus para louvor de sua glória!
A ordem direta de Deus a Abraão para
imolar Isaque fomenta várias discussões, distorções e interpretações
errôneas acerca do objetivo de tal ordem.
A despeito da onisciência de Deus, muitos questionam qual o propósito
de Deus em mandar Abraão imolar o seu filho. Deus queria saber até onde
Abraão era obediente? Deus queria mensurar a fé de Abraão?
A resposta é simples, porém, demanda conhecimento bíblico e
raciocínio. Para responder tal indagação é necessário relembrar alguns
eventos específicos concernentes a vida de Abraão. Analisemos estes três
pontos principais:
Abraão era gentil, morava na cidade de Ur, terra dos Caldeus. Seu pai
saiu da cidade de Ur com destino a terra de Canaã, porém, quando chegou
a Harã, passou a habitar naquele lugar.
Abraão foi orientado por Deus a sair do meio de seus parentes
seguindo para uma terra que ainda seria mostrada. Abraão saiu confiado
em Deus tendo em vista uma promessa ( Gn 12:2 ). Obedeceu à voz divina,
porém, levou consigo o seu sobrinho Ló até a terra de Canaã ( Gn 12:5 ).
Após passar pela terra de Canaã, novamente Deus apareceu a Abraão e
prometeu aquela terra à sua descendência. Abraão, que à época chamava-se
Abrão, ali edificou um altar ao Senhor, e seguiu em direção ao sul.
Abraão desceu ao Egito por causa da escassez de alimento e quando se
estabeleceu no Egito adquirindo riquezas. Após ter alcançado bens o
patriarca foi compelido a deixar o Egito, pois Deus feriu o rei do Egito
por causa de Sara, mulher de Abraão. Em seguida, Abraão subiu do Egito
para as regiões do Nequebe juntamente com Ló.
Perceba que Abraão poderia continuar morando no Egito, porém, a
grande praga que sobreveio ao rei do Egito fez com que Abraão saísse de
lá.
Abraão seguiu do Egito para a região do Neguebe e retornou ao local
que fez o primeiro altar ao Senhor, Betel, ou seja, voltou ao ponto
inicial de sua peregrinação. Após uma contenda entre os servos de Ló e
os servos de Abraão, eles se separaram. Ló foi levado cativo e Abraão
teve que lutar contra quatro reis para libertá-lo.
Após a guerra, saiu ao encontro de Abraão o rei de Sodoma e o rei de
Salém. O rei de Salém abençoou Abraão, e o rei de Sodoma fez uma
proposta a Abraão, que foi rejeitada de pronto: “Levantei
a minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra,
jurando que não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu, nem um fio
nem uma correia de sapato, para que não digas: eu enriqueci a Abrão” ( Gn 14:22 -23).
De tudo que relembramos até aqui, surgem algumas considerações: Por
que Abraão precisou sair do Egito, se ele não alcançou a promessa e
viveu como peregrino na terra? Por que Abraão não aceitou a proposta do
rei de Sodoma se era legitimo ele aceitar tal prêmio?
Diante da proposta do rei de Sodoma Abraão entendeu que, caso
aceitasse, no futuro alguém poderia interpretar que Abraão foi
enriquecido através dos bens da cidade que foi subvertida por Deus. Se
Abraão ficasse com os bens do rei de Sodoma, ficaria ‘constado na
história’ que, o rei de Sodoma, e não Deus havia abençoado Abraão.
Abraão foi tentado a lançar mão de bens, que no futuro poderia dar a
entender a Abraão que a promessa de Deus efetivou-se por uma conquista
própria. Como bem sabemos posteriormente a cidade de Sodoma foi
subvertida devido a sua promiscuidade excessiva.
Porém, fica uma questão sem resposta: onde e quando Abraão alcançou o
discernimento para não fazer aliança com o rei de Sodoma, rejeitando o
que lhe era de direito? A saída do Egito motivada pela praga na casa do
rei proporcionou a Abraão uma lição de vida que o capacitou a rejeitar a
aliança com o rei de Sodoma.
Com relação às questões materiais Abraão estava consciente de que deveria esperar em Deus.
- A promessa de um descendente
Deus prometeu a Abraão que a sua descendência herdaria a terra que os
seus olhos estavam enxergando no momento da reiteração da promessa ( Gn
13:14 ), porém, Deus ainda não havia prometido um filho a Abraão gerado
por Sara.
Em face da promessa à sua ‘descendência’ ( Gn 15:1 ), Abraão ficou
incomodado por não ter filho, e pretendia fazer o damasceno Elieser, o
seu servo, o seu herdeiro.
Foi quando Deus prometeu a Abraão um filho de suas entranhas, sem
qualquer referência a Sara, e creu Abraão e isto lhe foi imputado por
justiça ( Gn 15:4 ).
Para Abraão Deus prometeu o impossível, visto que a época da promessa
era de conhecimento que Sara era estéril, porém ele creu firmado no
poder e na fidelidade de Deus, sendo declarado justo diante de Deus.
Apesar de Abraão crer em Deus e ser justificado, o tempo passava e
ele continuava sem filho. Diante deste quadro, a mulher de Abraão
resolveu providenciar filho a Abraão, e ele aceitou dar a Sara um filho
através da escrava ( Gn 16:2 ).
É bem provável que Abraão tenha interpretado a atitude de sua mulher
como sendo a providência divina: 1) Ismael foi gerado segundo a carne de
Abraão, e; 2) o nascimento de Ismael encaixou ‘perfeitamente’ no que
Deus lhe falara (um filho de suas entranhas).
Este entendimento decorre do fato de Abraão ter feito menção do nome de Ismael quando Deus reiterou a promessa: “Oxalá viva Ismael diante de ti!” ( Gn 17:18 ). Abraão já estava compreendendo que Ismael era o filho da promessa, o seu ‘primogênito’ e herdeiro.
Algum tempo depois, Abraão foi interpelado por sua mulher, que exigiu
que Ismael não herdasse juntamente com Isaque. Abraão ficou temeroso,
visto que Ismael seria o seu ‘primogênito’, porém, descansou em Deus
quando foi orientado a esperar na providência divina e que ele não
estaria fazendo nenhum mal ( Gn 21:12 ).
A despeito do riso de Abraão no coração, a promessa de Deus continuou de pé ( Gn 17:17 ), e no tempo determinado nasceu Isaque.
Isto demonstra que a fidelidade de Deus é a causa de Abraão ter sido
justificado e abençoado segundo a promessa, visto que Abraão riu da
promessa.
Em nossos dias a fé é tida como agente catalisador que desencadeia
milagres, porém, o que a palavra de Deus demonstra é que a fidelidade e o
poder de Deus devem ser à base da fé cristã.
Mesmo após Abraão apresentar seu servo damasceno e seu filho Ismael
como opção diante de Deus, mesmo após rir da promessa, Deus permaneceu
fiel à sua palavra.
Sara era estéril, de avançada idade (mais de 90 anos) e segundo a
promessa de Deus concebeu Isaque. A bíblia demonstra que Abraão estava
ciente das impossibilidades para se alcançar um filho com Sara:
Diante das impossibilidades, o homem ri, pois não tem idéia da
dimensão do poder de Deus. Diante do mar vermelho o homem fica temeroso,
pois a impossibilidade do homem fica em evidência. Diante da
necessidade de salvação o homem descobre que está à mercê do pecado e da
morte, porém, o que é impossível aos homens, para Deus é possível.
Nenhum comentário para "Por que Deus exigiu de Abraão o sacrifício de Isaque? - Part 1"
Postar um comentário