Crenças não removem montanhas

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Este tipo de abordagem é uma Figura de Estilo, utilizada na escrita para dar maior expressividade ao que se pretende transmitir. Quando se troca em um texto um nome por outro, havendo entre eles uma relação lógica, é o que denominamos Metonímia. Ou seja, quando se troca a causa pelo efeito, como é o caso de trocar a palavra 'evangelho' que é a causa da fé, pela palavra que designa o efeito 'fé', temos uma Metonímia.

"Foi por ela que os antigos alcançaram bom testemunho" ( Hb 11:2 )

A fé é essencial à Regeneração do homem "Quem nele crê não é condenado..." ( Jo 3:18 ), ou seja, para que o homem venha a nascer de novo é preciso crer em Cristo, o Verbo (Palavra) de Deus enviado ao mundo.

A confiança na salvação providenciada por Deus não surge do acaso. De acordo com o apóstolo Paulo, é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus ( 2Co 3:4 ).

O homem não é capaz, por si mesmo, de pensar coisa alguma a respeito dos bens futuros, como se a confiança em Deus procedesse do homem. Antes, sendo Deus fiel e verdadeiro, a fé é proveniente da verdade do Evangelho.

A mensagem do evangelho contém as promessas de Deus, e em Cristo elas foram anunciadas e confirmadas ( 2Co 1:19 -20). Desta forma, o apóstolo Paulo demonstra que temos uma esperança, e que por intermédio de Cristo temos tal confiança em Deus ( 2Co 3:4 e 12).

O Dr. Emery. H. Bancroft, em seu livro Teologia Elementar deixou registrado o seguinte sobre a fé: "A fé é o aspecto positivo da verdadeira conversão, o lado humano da regeneração. Pelo arrependimento, o pecador abandona o pecado; pela fé ele se volta para Cristo. Mas o arrependimento são inseparáveis e paralelos. O verdadeiro arrependimento não pode existir à parte da fé, nem a fé à parte do arrependimento. Tem-se dito que o arrependimento é a fé em ação, e que a fé é o arrependimento em repouso" BANCROFT, Emery. H., Teologia Elementar - 3º Edição 2001, Ed. EBR, Pg. 242 (grifo nosso).

Em primeiro lugar, não existe um lado humano para a Regeneração. A Regeneração é ato criativo de Deus e o homem não participa deste ato como coadjuvante, antes é produto desta criação. Da mesma maneira que o filho não coopera com os pais no processo de concepção, o homem que é de novo gerado não participa deste ato.

Em segundo lugar, o pecado não é abandonado através do arrependimento, e sim, através da regeneração. Abandonar o pecado não depende do apego do homem as questões morais e religiosas. Não é por meio de um 'ódio' as condutas errôneas dos homens. O arrependimento bíblico significa mudança de ponto de vista, de concepção frente a mensagem do evangelho, e não um sentimento de tristeza em vista das ações pecaminosas do homem.

Exemplificando, temos que: por mais que um escravo tenha desejo de ser livre, não pode abandonar o seu senhor. A tristeza do escravo jamais promoverá a sua liberdade. É impossível ao homem abandonar o pecado, antes, é preciso confiar em Deus que, ao recriá-lo, operará a remissão e redenção. Por nascer filho de Adão, o homem nasce escravo do pecado, e na Regeneração o homem é recriado livre, por ser filho de Deus.

Perceba que as considerações de Bancroft sobre o arrependimento são equivocadas. O arrependimento diz somente de uma 'mudança de conceitos' frente a verdade do evangelho, sem referência a qualquer sentimento ou emoção humana.

A fé não pode ser considerada uma ação humana, ou que o arrependimento é a fé em ação. Primeiro, o arrependimento refere-se a uma 'mudança de conceitos' ou 'entendimento' acerca de como se alcança a salvação.

Por exemplo, os judeus pensavam que bastava ter por pai a Abraão que já eram salvos, porém, a filiação divina não se alcança através de vínculos consangüíneos (descendência), e sim, por meio da mesma fé que teve o pai Abraão.

Terceiro, a fé é proveniente daquilo que ouvimos acerca de Deus. A fé do homem não move montanhas, porém, ele crê em quem tem poder para removê-las. A fé de Elias não produziu o fogo que consumiu o altar dos profetas de Baal, porém, o Deus de Elias, em quem ele depositou fé, é que fez descer fogo do céu.

Os adoradores de Baal acreditavam que seriam ouvidos. Acreditavam tanto que aceitaram o desafio de Elias. Porém, a 'fé' deles fez algo acontecer? A adoração deles elevou o ídolo à condição de um deus? Não!

O evangelho é que produz fé, e dele decorre o arrependimento. Ao ouvir a mensagem do evangelho o homem pode arrepende-se ou permanecer de posse dos seus conceitos. Pode crer ou rejeitar. Conclui-se que fé e arrependimento são produzidos através da mensagem do evangelho. Observe:

"Mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento" ( At 26:20 );
"Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse" ( Mc 6:12 );
"E que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão..." ( Lc 24:47 ).

O anunciado ou o conteúdo da mensagem do evangelho é que o homem se arrependa, ou seja, que abandone os seus conceitos, e aceitem a Cristo para que obtenham a remissão dos pecados. Quando o homem abandona os seus conceitos, ele se converte a Deus, ou seja, crê em Cristo.

"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé..." ( 1Tm 4:1 );
"Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" ( Gl 3:2 e 5 );
"Mas que diz? A palavra está junto de ti; está na tua boca e no teu coração, isto é, a palavra da fé que pregamos" ( Rm 10:8 ).

Nestes versículos o conteúdo da mensagem do evangelho é designado de ‘fé’, e por isso, Judas exorta os cristãos a batalhar pela fé que um dia foi dada aos santos! ( Jd 1:3 ).

Falamos no início de uma fé geral, ou como os teólogos apontam: fé natural. Esta fé ou confiança (crença) que todos os homens possuem foi formada com base em experiências próprias, ensinamentos, evidências, etc. Esta fé geral, em última instância, tem a sua base em Deus, pois Ele em sua magnificência se dá a conhecer através da natureza, demonstrando a sua bondade e fidelidade através das leis preestabelecidas.

As leis pré-estabelecida dá ao homem natural confiança e segurança, podendo confiar que sempre haverá um amanhã. É com base na fidelidade de Deus que o homem natural semeia, procria, faz planos, etc. Se não fosse a certeza e segurança de que não haverá mudança repentina nos eventos do dia-a-dia o homem não teria vida.

Mesmo quando a certeza do homem se apóia em probabilidade, o homem consegue guiar-se ante a certeza dos seus riscos. Por não haver caos instalado no universo, o homem tem fé, entretanto, esta não é a fé salvadora. Todos os homens nascem sem fé, e ao se desenvolverem vão aprendendo a confiar nos pais, amigos, na vida, etc.

O homem descendente de Adão (homem natural) tem em si uma sentença de morte que operou a mudança radical em sua natureza. Porém, mesmo após esta mudança radical, ele continua sendo o recipiente da fé, tanto da fé geral, quanto da fé salvadora. Isto porque, da mesma forma que a fé geral tem a sua origem em Deus, a fé para a salvação também é concedida por Deus, pois todos os homens são recipientes da fé.

A queda do homem mudou-lhe a natureza, mas quanto a ter fé e certeza das coisas que o cercam, esta capacidade não foi afetada. É quanto a isso que se aplica a alegoria da escravidão: mesmo não podendo alterar a sua condição, quanto a sua liberdade, o escravo tem liberdade para ver o mundo sob a sua óptica, aprender e acreditar nas coisas que bem entender.

O homem preso nas amaras do pecado, ao ouvir a mensagem salvadora e crer, recebe de Deus uma nova vida, sendo liberto da antiga natureza.

Observe que a mensagem do evangelho é argumentativa, demonstrando a condição do homem sob a égide do pecado, a necessidade de mudança de conceitos quanto a como se salvar, a necessidade de um novo nascimento e que tal mudança necessária à natureza se alcança somente por meio da fé em Cristo.

A mensagem do evangelho é única e destina-se a todos os homens. Estes precisam ouvir a mensagem e se decidir por Cristo.

Observe o quanto Paulo argumentou sobre o evangelho ao falar com Félix e sua mulher Drusila, e depois com o rei Agripa, tentando convencê-los de aceitarem a fé em Cristo "E discorrendo ele sobre a justiça, o domínio próprio e o juízo vindouro..." ( At 24:25 ).

A decisão em aceitar a mensagem do evangelho compete ao ouvinte, que após se inteirar daquilo que Deus fez em prol dos pecadores, confia em Deus, que prometeu e tem poder para salvá-lo.

A mensagem que diz: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" ( Jo 3:16 ), permanece viva: é preciso crer para ter vida eterna.

E a pergunta que diz: "Como crerão se não há quem pregue?" ( Rm 10:14 ), também é atual.

Através desta análise procuramos evidenciar que: a mensagem do evangelho em muitos versos bíblicos é designada através daquilo que produz: fé, e não se prende a definição que se encontra na carta aos Hebreus "Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem" ( Hb 11:1 ).

Este tipo de abordagem é uma Figura de Estilo, utilizada na escrita para dar maior expressividade ao que se pretende transmitir. Quando se troca em um texto um nome por outro, havendo entre eles uma relação lógica, é o que denominamos Metonímia. Ou seja, quando se troca a causa pelo efeito, como é o caso de trocar a palavra 'evangelho' que é a causa da fé, pela palavra que designa o efeito 'fé', temos uma Metonímia.

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